Quando um vampiro poderoso possui planos de
aumentar seus poderes, alguém precisa pará-lo. Acompanhe a história dos irmãos
Styrman e de seu envolvimento com o mundo sobrenatural.
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TAVERNA
Parte 03 – Explicações
“Aquele
que pergunta pode ser um tolo por cinco minutos. Aquele que deixa de perguntar
será um tolo para o resto da vida”.
Provérbio
chinês.
Resumo
do capítulo passado:
João Victor consegue capturar uma vampira perigosa (Bárbara Andrade); Leonardo
e Alessa se disfarçam e fazem uma visita ao Sr. Simis Solteirus e sua esposa
Jocasta, enquanto Nooa Styrman sai da casa dos dois com a pequena Laura.
Segunda-feira. 3 horas da manhã.
Riverview. Mansão Duquesa de Savoy.
Daniel acordou
numa espécie de cela.
Havia uma cama,
uma pia, um espelho, um vaso sanitário e até um cestinho de lixo. E nada mais
do que isso. Então ele se desesperou! Onde estaria?!!
Havia janelas na
cela! Janelas em uma cela!!!
Começou a
gritar, a bater no vidro. Gritava o mais alto que podia.
Ele conseguia
ver a casa de Tuuli pela janela. Alguém precisava ouvi-lo! Alguém precisava ouvi-lo!
Daniel Wang
gritava com toda a força de seus pulmões, quando tomou um susto ao ouvir uma
voz com um tom frio e forte que parecia vir dali de perto:
- Se eu fosse
você, parava de gritar. A cela inteira é à prova de som. Os vidros da janela
são especiais, inquebráveis. E você enxerga o que está lá fora, mas lá de fora
ninguém vai conseguir te ver. Fora que você está me irritando com esses berros
descabidos. Você está atrapalhando minha leitura.
A voz era
masculina, segura e tinha um leve tom de irritação.
Daniel foi se
aproximando e notou as grades da cela onde se encontrava. Aproximou-se e, de
lá, pôde ver o dono de tal voz: era um homem jovem, de longos cabelos pretos.
Ele lia um livro sentado numa poltrona.
- Quem é você?!!
Como vim parar aqui?!! – O garoto estava desesperado.
- Meu nome é
Tuomas. Você foi trazido para cá. – Ele respondeu friamente, sem tirar os olhos
do livro.
- O que estou
fazendo aqui? Por que estou aqui? O que você quer comigo?
- Um amigo meu o
trouxe aqui. Você está nesta cela porque será usado como sacrifício em um
ritual. E eu? Eu não quero nada com você. Mas sim meu tutor.
Daniel
empalideceu diante das respostas que o homem lhe dera. Ele estava tão
aterrorizado que não conseguia responder aos absurdos que havia acabado de
ouvir.
Então passos
foram ouvidos. Vinham da escada.
- Finalmente. –
Tuomas falou aos dois que chegaram, sem nunca tirar os olhos do que estava
lendo. – O garoto acordou e atrapalha minha leitura com suas perguntas
dispensáveis.
- Gunnar. Gunnar
está pronto. – O corpulento homem falou, com uma voz grossa e grave.
- Ok, Sr. Vocabulário
Limítrofe. – Tuomas falou para o grandalhão. Ele sempre fazia troça com a
maneira com que Petri se expressava, mas esse geralmente não entendia, pois sua
inteligência era um pouco limitada.
- O que quis
dizer com isso? – O grandão perguntou, com a cara já fechada.
- Ele quis dizer
que precisamos nos apressar, Petri. – A mulher disse, sorrindo.
- Ótimo. –
Tuomas fechou o livro, levantou-se e começou a descer na frente.
- Petri, leve o
garoto. – A mulher disse, com uma voz tão aveludada que Petri não se permitiria
nunca negar um pedido seu ou contrariá-la de alguma maneira. – Irei na limusine
com Tuomas, se não se importar, meu querido amigo.
Então ela desceu
atrás do vampiro de longos cabelos pretos.
Sunset Valley. Mesmo dia (mas à noite).
Segunda. Quase 20 horas.
As perguntas de
Laura já tinham começado, quando Nooa achou melhor que saíssem do restaurante “O Pequeno Bistrô Corso”, pois o lugar
estava cheio e o teor da conversa era confidencial. Sentaram-se do outro lado
da rua.
Faltava uma hora
e poucos minutos para Nooa se encontrar com o vampiro Ichiro, o representante
de Corann.
- Vai. Continua
com as perguntas. – Ele disse.
- Eu queria
primeiro que você me explicasse sobre o Despertar.
- Bem, o mundo
não é aquilo que achamos que ele é. Pelo menos não uma parte dele. Há coisas
que as pessoas não conseguem enxergar. A mente delas não aceita a existência de
certas coisas, de criaturas sobrenaturais, então as bloqueia. Dizemos que o
Desperto é aquele que consegue enxergar o que está por trás do “véu” da
realidade, entende?
- Por exemplo, as
pessoas bloqueiam a existência dos vampiros, não é isso?... – Ela o olhou,
séria.
- Isso. As
pessoas pensam neles como criaturas que não existem, como ficção. Então, se
elas veem um deles, suas mentes bloqueiam a realidade e elas apenas o enxergam
como um Sim qualquer, o que é uma maneira de manter o mundo delas “normal”.
Elas não veem porque simplesmente elas não desejam ver. Já os Despertos veem
essas criaturas e sabem que elas são diferentes dos Sims normais, seja pela
coloração da pele, pelo brilho maligno nos olhos, pelo cheiro de carniça que
alguns exalam, etc.
- Então todo Caçador
é um Desperto?
- Todo Caçador é
um Desperto, mas nem todo Desperto é um Caçador, pois esse pode não ter sido
encontrado por nossa Organização.
- E como vocês
me encontraram?
- Temos agentes
que possuem a “visão” e cujo trabalho é encontrar os Despertos. Foi assim que
um deles encontrou você.
- E o que faz
alguém “despertar”?
- Não sabemos o
que faz algumas pessoas despertarem e outras não. Um dia acontece! Ou pode
nunca acontecer para alguém. Raras são as pessoas que despertam, entende? É
como aconteceu com você, que um dia estava olhando as estrelas no seu
telescópio e pá! Você simplesmente sentiu que o mundo estava diferente para
você. Então você passou a enxergar as criaturas sobrenaturais nas ruas.
- E o que é o “Manto”?
- É uma magia
utilizada por vampiros poderosos. Essa magia faz com que todas as lembranças
sobre alguém sumam da mente das pessoas que a conheciam. É como se aquele Sim
nunca tivesse existido. Até documentos físicos e digitais sobre aquela vítima
desaparecem! Mas não para um Desperto. O Desperto sempre se lembrará de quem desapareceu
para os outros. E essa magia não atinge as bases dos Caçadores e nem funciona
contra os Despertos, por isso mantemos registros de todos os Sims que existem
nos computadores de nossos quartéis-generais, pois se alguém desaparece dessa
forma e é esquecido por todos, já sabemos que foi vítima de um vampiro.
- Ok... – Laura
disse, pensativa. – E a pele dos vampiros é gelada, Nooa?
- Sim. Ela é
fria. Mas só os Despertos notam sua coloração e sua temperatura verdadeiras. O
máximo que pode acontecer a uma pessoa comum perto de um vampiro é ela sentir
um calafrio e uma sensação ruim vinda da criatura. Geralmente são aqueles Sims
mais sensíveis ou que possuem um grau mais elevado de empatia que conseguem
sentir o mal que emana dessas “pessoas”.
- O que é “empatia”,
Nooa?
- É a capacidade
que uma pessoa tem de se colocar no lugar do outro, de se identificar com o
outro.
- Então nós
somos o “lado do bem” e as criaturas
sobrenaturais são o “lado malvado”?...
Nooa riu:
- Respondendo de
forma simplista, é isso aí. Pelo menos eu nunca vi um vampiro que tivesse um
mínimo de respeito pelos Sims.
- Mas se somos o
“lado do bem”, nós não deveríamos
tentar dar uma chance para eles?
- Olha, Laura,
vou tentar te explicar isso de uma maneira bem direta e quero deixar bem claro
que essa é minha visão da coisa, ok? O “Bem” e o “Mal” são conceitos que foram
muito deturpados em nosso mundo. O “mal” nos fez acreditar que era “errado”
combater o mal com a força, que violência gerava apenas violência, que o correto
era “oferecermos a outra face” e suportarmos o mal com nossos corações para que
nossas almas fossem salvas.
- Mas não é isso
o correto?...
- Olha,
Laura,... Há demônios soltos em nosso mundo. Eles assassinam, estupram, abusam
de menores, sequestram, torturam, entre outras atrocidades. A maioria deles é um
Inumano, Laura.
- Inumano?
- É como
chamamos todas essas criaturas sobrenaturais: vampiros, lobisomens, fantasmas,
múmias. São os Inumanos. E há Inumanos que, às vezes, não sabem ainda de sua
condição como monstros, pois aceitaram o mal como algo natural. Simplesmente
precisam matar, trucidar, fazer o mal, sem nem saber explicar o porquê dessa
sede de violência. Mas nós, Caçadores, os enxergamos como eles são: eles são
criaturas malignas que precisam ser destruídas. São monstros que, se não forem
eliminados, continuarão matando e machucando os outros. E o papel dos Caçadores
é eliminá-los. A guerra traz a paz. Uma não existe sem a outra. Se você não
elimina uma praga, você é destruído por ela.
- Mas, Nooa, e
por que o mundo não está melhor?... Vocês andam eliminando poucos Inumanos?
- Não, Laura,...
– Ele olha para ela com um olhar meio triste. – O problema é que o número de
Caçadores diminuiu muito. E o de Inumanos aumentou. Eles contam com a proteção
das crenças que eles mesmos espalharam entre os Sims. Crenças que geralmente os
protegem de uma punição mais severa, como a Pena de Morte. Crenças que fazem
todos acreditarem que o único caminho para o bem é sentar e rezar para que o
Grande Will Wright livre nosso mundo do mal. Crenças que dizem que devemos
“perdoar” para sermos “perdoados”. Crenças que ignoram que o nosso maior juiz
não é o Grande Sim Wright, mas nossa própria consciência. Crenças que ensinam
que devemos dar uma chance até para aqueles que não a merecem: aqueles cujos
crimes são abomináveis.
- Então você
está me dizendo que é errado rezar para o Grande Will Wright?
- Não, Laura.
Não é. O errado é esperar que ele resolva nossos problemas quando ele nos deu
tudo para que possamos fazer isso. O errado é o óbvio continuar sendo ignorado
e, por isso, pessoas inocentes terem fins horríveis nas mãos dos demônios.
- Nooa, e o que
é o óbvio que está sendo ignorado?
- Laura, se
existe, você acha que o Grande Sim permite monstros em seu paraíso?
- Não... Caso
contrário não seria um paraíso.
- Então você
entende agora o porquê de nosso mundo às vezes parecer um inferno?
Naquele mesmo dia (mais cedo).
Segunda-feira. 03h30min da manhã.
Riverview. No castelo particular de
Gunnar.
Petri havia
levado o garoto, de carro, para o castelo.
Lá, obrigou o
garoto a entrar numa banheira velha, estrategicamente colocada no chão sobre
uma piscina protegida por um vidro especial. Além de sentir o cheiro de sangue
que emanava da velha banheira, Daniel podia perceber também que ela não havia
sido limpa de maneira satisfatória.
Tudo já estava
preparado para o ritual que seria feito ali.
Uma porta à
esquerda de Daniel foi aberta.
Um homem loiro,
alto, imponente, adentrou o aposento, seguido pela mulher e pelo homem que tinham
falado antes com Wang.
Posicionado de
frente para o menino, o loiro apresentou-se:
- Eu sou Gunnar,
o Guerreiro. – Ele disse, com orgulho.
Daniel estava
apavorado. Não conseguia nem falar.
- Você sabe
lutar, rapaz? – Gunnar perguntou friamente para Daniel.
- Lutar?... L-l-lutar
como?
- Lutar. Se
souber lutar e me vencer, eu o liberto.
Wang começou a
chorar baixinho:
- Não! Eu não
sei lutar! Eu sou um adolescente! Tenho 16 anos!
- Eu já tinha enfrentado
batalhas defendendo meu clã na sua idade. – Gunnar disse, ríspido. Ele então
pegou um copo que estava sobre uma pequena mesinha no local. Começou a beber algo
devagar, sentando na maior cadeira que havia na sala, uma espécie de trono. -
Vê a porta que está atrás de você? – Ele perguntou.
Daniel olhou
rápido. Era uma porta velha, a madeira estragada, mas possuía um belo vitral e
tinha acabamento de metal, um metal meio avermelhado.
- Essa porta
está trancada há séculos, por magia. E atrás dela, de acordo com pergaminhos
antigos, está a liberdade para que meu povo volte a reinar neste mundo, de
maneira definitiva. – Gunnar disse, saboreando a bebida.
- Seu... Seu
povo?... – Daniel estava com muito medo.
- Sim. Meu povo.
- Quem, quem são
vocês? Quem é seu povo? – O garoto juntava forças para fazer cada pergunta,
pois aquele homem à sua frente, por mais educado que lhe parecesse, lhe
transmitia pavor, uma sensação alarmante de que alguma coisa estava muito,
muito errada.
- Que rudeza a
minha. – Gunnar disse. – Ainda não lhe apresentei aos outros. Esses são:
Lucianna, Tuomas e Petri. – Ele disse, de forma educada. A voz de Gunnar era
firme, alta, forte. Todo o conjunto de sua imagem fazia Daniel ter muito mais
medo dele do que dos outros três.
Petri ligou a
torneira da banheira, para enchê-la de água, e voltou para seu lugar.
- Vocês vão me
matar? – A voz de Daniel quase não saiu quando ele resolveu fazer essa
pergunta. Ao final dela, já estava chorando. – Eu não fiz nada! Eu não fiz nada
contra vocês, contra ninguém!!! Por que estão fazendo isso? – Disse, em
prantos.
A um sinal de
Gunnar, Lucianna se aproximou do garoto e falou com uma voz muito suave:
- Acalme-se...
Só queremos conversar...
E,
inexplicavelmente, Daniel se sentiu mais tranquilo. Foi como se todo o pavor e o
medo simplesmente tivessem desaparecido quando Lucianna falou com ele.
Gunnar então
começou a falar:
- A porta atrás
de você guarda o segredo que permitirá a meu povo voltar a andar sob a luz do
sol novamente. E eu poderei governar meu reino em paz. A Ordem será trazida
novamente ao seu mundo.
- Novamente?...
– Daniel não estava entendendo.
- Responda-me,
jovem: quantos livros você conhece, você já leu, sobre universos fantásticos,
magias, mundos mágicos, criaturas mágicas? – Gunnar perguntou, olhando para
ele.
- Muitos... –
Wang respondeu, preocupado, vendo a água na banheira encher rápido. “Será que vão me afogar?”, ele pensou.
- Esses livros
existem para que as lembranças desses mundos não fiquem apagadas em nossas
almas... – Tuomas (o vampiro de longos cabelos pretos) falou, com a voz e a
expressão carregadas de emoção. – Os autores contam em seus livros aquilo que
suas almas, em outras vidas, em outros mundos, em outras dimensões, já
vivenciaram. Foi a maneira que os espíritos terrestres encontraram para manter
pelo menos um elo mínimo entre este mundo e os outros.
- Antigamente a
Terra possuía portais abertos para esses mundos mágicos. – Lucianna continuou.
- Mas durante as batalhas entre os Æesires, que somos nós, e os Rebeldes, que
gostam de se chamar “Caçadores”, a
maioria dos portais foi destruído.
- A divergência
era sobre a visão que temos do mundo. Nós, a raça chamada Æesir, acreditamos
que os mais fracos devem obediência e respeito incontestáveis aos mais fortes.
Os “Caçadores”, bem,... – Gunnar
sorriu, levantando-se. – Eles são a escória, aberrações cuja existência é
motivada pela sede do sangue de meu povo. Eles costumam nos chamar de Inumanos,
sem nenhum respeito a nossa posição. E alguns Æesires, aqueles que não
respeitam suas próprias tradições, preferem ser chamados de “vampiros”.
“Despertos, Caçadores, Æesires, portais?...”,
Wang pensava, confuso.
- E por que está
me contando tudo isso? O que estou fazendo em pé nessa banheira? O que
significa essa água aqui embaixo? – O garoto perguntou, aparentemente calmo,
mas apavorado interiormente.
- Heng lançou
uma maldição sobre meu povo: nos aprisionou na Terra, trancando os portais para
nosso mundo e tornando a luz do sol o nossos ponto fraco. Como consequência
disso, nossa magia ficou mais fraca, pois grande parte de nossos poderes vinha
de nossa terra mãe. – Gunnar disse. – Por séculos vagamos tentando encontrar
uma maneira de abrir uma passagem de volta. Se uma dessas passagens fosse
aberta, todas as outras também seriam. Então um dia, Henrike sonhou com o
portal vivo que chamava por seu nome. Henrike saiu de perto de sua família,
contra a vontade deles, e após uma longa e incansável busca, encontrou Rhaluk,
o portal, a grande criatura, aqui neste castelo.
- Portal? Você
está falando daquela porta? – Daniel estava achando toda aquela história muito
louca.
Os quatro riram
da observação de Wang, que consideravam bem típica de Sims não despertos.
- Aquela não é
uma “porta” comum. Aquela é Rhaluk. E o que você precisa saber, jovem, é que Rhaluk,
como toda criatura, precisa ser alimentada. – Tuomas sorriu, com cara de
satisfação.
- E você será seu
alimento. – Lucianna disse.
- Por que eu?
Por que eu? – Daniel tremia.
Mas essa
pergunta eles não responderam, limitando-se a sorrir enquanto olhavam o
desespero do garoto. O que eles não contaram era que ultimamente eles tinham
sacrificado pessoas conhecidas de Tuuli, na esperança de que o Manto (a magia
que fazia todos se esquecerem da vítima) não a atingisse, o que faria ela
“despertar” como uma Æesir ao lembrar-se de alguém que desapareceu.
Inicialmente
eles quiseram pegar as pessoas da família dela, mas logo descobriram que seria
perigoso, já que o irmão da garota, Nooa, era um Caçador.
Tuomas quebrou o silêncio:
– Então,... Não
se preocupe. Você não fará falta alguma a ninguém. Lançaremos o Manto sobre o
Mundo Sim, um feitiço Æesir que fará com que você, Daniel, seja esquecido por
todos que o conhecem. – Ele sorriu.
- Chega de
conversa. – Gunnar disse. – Lucianna, explique a Daniel como ele nos será útil.
- Daniel,
querido, seu sangue passará dessa banheira para a água que está abaixo de você.
– Lucianna começou a explicar. - Quando a criatura precisar de mais uma vida, a
água voltará a ficar da cor que se encontra agora. E lhe daremos mais um Sim,
mantendo-a viva.
O objetivo deles
era que, um dia, Tuuli estivesse preparada como uma sacerdotisa Æesir. Ela era
a única Æesir que poderia tocar o portal sem ser desintegrada.
Já Daniel estava
aterrorizado. Ele pensava rápido, mas suas feições, seu rosto, sua voz, não conseguiam
demonstrar seu estado de espírito.
- Se vou morrer,
por que estão me contando tudo isso? Por que não me matam apenas e acabam logo
com tudo? – Ele perguntou.
- Rhaluk exige
que cada sacrifício saiba sua gloriosa e honrosa condição. – Gunnar respondeu.
– Agora sim você está preparado para seu grande momento.
Os golpes que
Gunnar deu no garoto foram rápidos e precisos. Daniel não teve chances de se defender.
E enquanto
Gunnar atingia o garoto, entoava a magia que faria o mundo se esquecer da
existência de Daniel, ele seria apagado da lembrança de todos. O nome dessa
magia era “Manto”. E qualquer papel,
fotografia, documento, qualquer vestígio de que Daniel havia existido, tudo
desapareceria também. E Gunnar esperava que Tuuli, sua Angelline, sua irmã
sacerdotisa Æesir, despertasse logo, pois ele já havia eliminado três pessoas
que ela conhecia, em um período de sete meses, e até agora ela não tinha
enxergado a realidade por trás do véu. E tantos desaparecimentos poderiam
atrair a atenção de algum Caçador.
Assim, após a
finalização do ritual, Petri começou a fazer sua parte: livrou-se da blusa, da
calça e dos tênis da vítima e foi queimar tudo em uma das lareiras do castelo.
Tuomas, o mais
cruel deles, foi esperar na sala ao lado pelo tempo necessário para a
quantidade suficiente de sangue passar para o poço abaixo da banheira (na
verdade, um tipo de piscina). Rhaluk se alimentava da energia do sangue do
sacrifício. O sangue mesmo ia para a "piscina" abaixo da banheira,
numa quantidade ilogicamente absurda. Ele era útil para os Æesires apenas para
que soubessem quando a criatura-portal precisaria ser novamente alimentada.
Só então Tuomas
poderia pegar o corpo de Wang, colocá-lo no baú e levá-lo para ser cremado no
forno que tinham instalado há anos em um dos porões.
Sunset Valley. Mesmo dia (mas à noite).
Segunda. 20h30min.
Agitada que era,
Laura não aguentou ficar sentada por muito tempo no banquinho. Disse que queria
ir para o parquinho infantil que tinha no Parque Central. Era novo. O prefeito
tinha inaugurado o parquinho há pouco no local, junto com o novo banheiro
público, já que o antigo era motivo constante de reclamações do povo da cidade.
Mas João Victor já tinha imaginado que ela não iria querer parar quieta e já
tinha deixado combinado com Nooa de que ele a levaria para lá, onde o próprio
João a pegaria bem antes das 21h. E foi o que o Styrman fez.
- Laura, mais
alguma dúvida? Fala logo porque não estou a fim de te ver de novo, pirralha.
- Nooa, Nooa.
Você é muito malcriado, sabia? – Ela riu, subindo no escorregador.
- Eu estou
falando sério! – E ele realmente estava falando sério, embora a menina
estivesse achando a cara dele engraçada.
- Olha, já te
falei sobre muita coisa. O que mais você quer saber? E vamos logo que não tenho
tempo.
- Me fala dos
Caçadores!
- Tá. Vou
resumir. Os Caçadores são uma Organização governamental secreta. Caçamos e
eliminamos criaturas sobrenaturais de outros planos que se encontrem aqui. –
Ele disse, meio impaciente.
- Como elas
vieram parar aqui? De onde elas são?
- São de outros
mundos. Mundos perigosos, desconhecidos. Elas estão aqui porque existiam
portais conectando o mundo delas ao nosso. Mas nossa Organização conseguiu
fechar todos eles para nos proteger, há alguns séculos atrás. As criaturas que
ficaram, nós tratamos de eliminar.
- Mas Max me
disse que existem os Inumanos aliados!
- É verdade. Mas
não podemos confiar neles. – “Odeio o
Max.”, Nooa pensou pela nona vez na noite. – Os Inumanos que possuem
“negócios”, “acordos” com o governo, são os que estão sob as ordens de Corann.
Corann é o líder da chamada “Sociedade Fria”.
- E qual o
acordo? – Ela escorregou, dando risada.
E nessa hora ele
sorriu, lembrando-se da irmã, Tuuli. “Tomara
que dê tempo d’eu ligar para ela quando eu chegar em casa hoje.”, ele
pensou.
- Uma das
cláusulas do acordo é que se eles andarem na linha, não serão caçados. Mas há
muitas outras. Mas o resto, quando você estiver maior, pede para o Max te
contar. - “Nooa: 1. Max: 0”, ele pensou,
feliz por dentro.
- Aposto que
você não sabe mais sobre o acordo. – Ela olhou para ele, rindo.
Mas ele sabia. E
realmente deixaria alguma coisa para o Max fazer.
- Jogo
psicológico barato comigo não rola, pirralha.
- Nossa, como
você é chato! Mas me diz, os Inumanos conseguem nos identificar?
- Não. Um
Inumano só vai reconhecê-la como uma Desperta, ou como uma Caçadora, se você
demonstrar que o vê como ele realmente é. Ou se você atacá-lo sem usar uma máscara
e ele sobreviver.
- Vocês usam
máscaras para eles não reconhecerem vocês?
- É. E quando
você estiver preparada, a Organização Heng vai te chamar para você se tornar
uma Caçadora Nível Mestre.
- Você e sua
equipe são apenas Caçadores normais, né?
- Não. – Ele
mente.
- Não foi o que
o Max disse...
- O Max não sabe
de nada! - Nooa fechou a cara.
- Nooa, me fala
mais dessa “Sociedade Fria”.
- Como eu te
disse, o Corann é o líder deles. E eles têm a obrigação de nos informar sobre
quaisquer Inumanos novos que apareçam por aí. Mesmo porque eles podem criar
novos vampiros, mas são proibidos de fazer isso.
- Mas aposto que
fazem, não é?
- É. De vez em
quando surge um desses por aí que não sabe nada sobre a “Sociedade Fria”, que
não lembra como tornou-se um deles e que adora usar seus novos poderes e matar Sims.
Aí nós tentamos arrancar informações deles e depois nós os eliminamos.
- Eles podem
criar vampiros, nós não podemos criar Caçadores. Eles são imortais, nós não.
Eles possuem poderes; nós não... – Ela disse. – Parece que estamos em desvantagem...
- Alguns
Despertos desenvolvem alguns poderes depois que passam pela Heng. Mas então! Os
Inumanos são assassinos frios e cruéis. As únicas coisas que matamos são
monstros como eles. Eles não têm escrúpulos. Nós sabemos que podemos confiar
uns nos outros. Nós não podemos criar Caçadores, mas assim que descobrimos um
Desperto, lhe oferecemos a alternativa de ser tornar um de nós, de ser alguém
melhor e usar seu poder de enxergar monstros para proteger as pessoas. Fora que
os poderes deles não nos atingem. Por isso geralmente os mais sem noção dos
Inumanos tentam descobrir quem são os Caçadores e tentam atingir seus
familiares. Obviamente isso é pedir para ser destroçado depois.
- Mas você não
vai se encontrar com um deles em um local público agora? Não vai mostrar sua
cara?
- Eles não mexem
com representantes oficiais dos Caçadores. E nem nós tocamos nos representantes
oficiais deles. Mas é por essas e outras que estamos sempre vigilantes.
Tentamos sempre pegar os vampiros não registrado antes da Sociedade Fria os
encontrar; pois se eles os encontram primeiro, eles os protegem. E é também por
isos que tentamos encontrar os Despertos antes deles, pois se eles encontram um
Desperto antes de nós, esse Sim e sua família podem entrar em apuros.
- Nooa, por que
eles matam humanos?
- Alguns
Inumanos gostam da carne humana, ou do sangue humano ou simplesmente sentem
prazer em torturar as pessoas.
- Eles todos são
assim?... – Ela disse, meio amedrontada.
- A maioria...
- E eles se
alimentam, andam de dia?
- É mais difícil
para vampiros andar de dia. Mas os mais antigos, dizem que eles conseguem. E
alguns deles podem até comer alimentos normalmente, sem nenhum problema, mas o
instinto monstruoso deles dificilmente deixa passar uma oportunidade de saciar
sua fome bestial atacando Sims, saca?
- Eles brilham
se saírem de dia?
- Não seja
ridícula!
- Você tem pena
deles, Nooa?
Ele calou-se
repentinamente. A pergunta dela o pegou de surpresa.
- Pena... Pena
deles?
- É... Eles já
foram humanos, né? Deve ter sido horrível eles terem se tornado algo assim...
Então ele ficou
bastante sério e disse:
- Laura, nem
todos eles já foram Sims. Os mais antigos e poderosos Inumanos vieram do mundo
natal deles. E aprenda isso: a bondade não deve ser desperdiçada com aqueles
que não a merecem. E eu espero que um dia você compreenda isso.
- E você se acha
melhor do que eles?
- Sim. Eu não
costumo estripar velhinhos e crianças só para me divertir.
- Oi, vim pegar
a pequena. – João Victor chegou na praça.
- Toda sua. Pode
levar o pacote. – Nooa disse.
João riu. Sabia
que o amigo não “curtia dar uma de babá”. A onda de Nooa era saber quando ele
começaria a bater e eliminar os Inumanos “de verdade”, aqueles mais perigosos,
e saber quando a Organização Heng iria chamar o grupo dele para Shang Simla.
- Olha, Nooa,
até que você é legalzinho. – Laura riu. - Talvez eu repense ficar no teu grupo
em vez de ficar no grupo do Max.
- Nem pensar.
Meu grupo está lotado. – Ele disse rapidinho.
João Victor só
riu:
- Vamos nessa,
Laura! Boa sorte lá, Nooa. Qualquer coisa, já sabe: Alessa e Léo estarão no
local marcado.
- Beleza. – Ele
disse.
João Victor e a
garotinha se mandaram dali, no VácuoVago P328, o carro branco do Jão.
E Nooa foi para
o seu próprio carro, onde trocou de roupa rapidamente e foi ao encontro de
Ichiro no Bistrô.
Ichiro Nakamura
chegou pontualmente à reunião com Nooa Styrman.
Os dois se
cumprimentaram e entraram no Bistrô. Seguiram para a área VIP do local, onde
uma mesa, reservada previamente, os esperava.
O lugar estava
lotado de gente da alta sociedade local. A decoração incluía árvores
artificiais, estátuas caríssimas, obras-de-arte nas paredes. Era o restaurante
da moda no momento.
Os dois
sentaram, pediram Dim Sum e uma garrafa de um dos melhores vinhos disponíveis
ali (um "Réserve des Célestins").
- Então,... –
Ichiro iniciou a conversa. – Você é o novo representante dos Caçadores.
- Exato.
O antigo era
Max, o Caçador que Nooa não se dava bem.
Nooa já havia
visto Ichiro uma vez, em um vídeo em que aquele vampiro aparecia lutando contra
Caçadores. Ichiro havia sido filmado sem saber, para que os outros Despertos
estudassem seu modo de luta e não fossem pegos de surpresa por seus golpes.
Uma das regras
do acordo entre o Governo e a Sociedade Fria era que os representantes dos dois
lados não poderiam ser atacados nunca, caso contrário haveria guerra.
- Então,... Qual
o recado? – Ichiro analisava-o. Nooa podia sentir isso.
Então o Styrman
passou uma foto para o representante de Corann, dizendo:
- Bárbara
Andrade. Fez duas vítimas. Eles querem a cabeça do tutor dela. Nada menos do
que isso.
- A “Sociedade”
não pode ser responsabilizada pelas atitudes de qualquer um que apareça por aí.
- Bem, Ichiro,
não sou eu quem faz as regras. – “Por mim
vocês todos seriam mortos.”, Nooa pensou.
- Corann está
bastante descontente com esse tipo de conduta de vocês. – Ichiro testava,
queria ver quais seriam os tipos de resposta de Nooa.
- Bem, se ele
está contente ou descontente não é problema meu. Se ele não mandar a cabeça do
tutor dessa mulher para o João Victor vocês terão problemas.
- Então é só
esse o recado?
- Exato.
- E você não
acha perigoso ser um Caçador? – Ichiro perguntou.
- Digamos que
sou daqueles que gosta do que faz. – Nooa respondeu, dando uma discreta
intimidada nele.
- Sabe que
poderia ganhar o respeito de Corann.
- Vamos parar
com o assunto aqui e agora, Ichiro. Sou incorruptível.
- Todos têm um
preço.
- No seu mundo.
Não no meu. Além disso, acha que colocariam qualquer um para representá-los?
Alguém facilmente “manipulável”? Não creio que seja tão inocente. – Nooa se
sentia extremamente desconfortável na companhia de Ichiro, mas precisava ficar
e não deixar transparecer isso, por isso deveria seguir com o jantar até o
final. E assim o fez, sob as olhadas enigmáticas e curiosas de Ichiro.
Terça. 01h10min da manhã.
Nooa chegou
tarde em casa, o que o deixou um pouco chateado, já que queria ter tido tempo
para ligar para a irmã.
Mas foi tomar um
banho, colocou o pijama e se largou na cama. Ficou assistindo um pouco de TV
até dormir. Tentava não pensar no quanto não gostou de Ichiro.
E algo lhe dizia
para ter cuidado, muito cuidado.
Segunda-feira. 03h50min da manhã.
Riverview.
Tudo tinha
ficado escuro... Os sons tinham ficado cada vez mais longe...
Então ele
começou a ouvir uma voz... Uma voz estranha... E ela se aproximava rapidamente,
a ponto de parecer que alguém lhe sussurrava:
- Daniel!...
Daniel!...
Ele não
conseguia responder.
- Você tem algo
que é meu, Daniel!... – A voz parecia longe, quase um eco.
Ele estava
confuso. Não conseguia pensar em nada. A voz o chamava.
- Daniel, quero
o que é meu!...
E um clarão
atingiu sua mente.
Começo da semana
passada. Aula de Ciências. O professor Kustaa Kangas estava na sala, passando
uma atividade para a turma dele.
“Se ao menos eu tivesse coragem de dar um
oi...”, Daniel pensava, enquanto fazia a lição. Tentava se concentrar, mas
não conseguia.
E o tal “oi”
nunca saía. O primo dela, Aake, marcava pesado, sentava do lado direito dela.
Enquanto que do esquerdo, só a parede. “Oh,
parede de sorte...”, pensava Daniel.
Então ele
escrevia. Escrevia músicas para Tuuli, olhando para ela, que nem o notava.
No intervalo,
menos chances ainda. Ele não fazia parte da turma dela.
Ficava
observando de longe, tentando ser discreto e imaginando se um dia ele também
poderia ser visto como alguém “legal”. Mas do que precisaria para isso
acontecer? Ter muita grana, ser boçal, tratar quem era diferente deles mal?
Hmmm... Não. Daniel não poderia nem queria ser assim.
Mas a Tuuli
parecia ser tão doce... Ele nunca a viu destratando ninguém... Será que ele
estava enganado e ela era igual a eles? Ele colocou na cabeça que ainda iria descobrir.
E por enquanto continuava olhando de longe, escrevendo canções e sonhando
acordado, sentindo ciúmes de cada carinha que chegava perto dela e vibrando
cada vez que Aake colocava um deles para correr.
Naquele dia, no
intervalo, ele estava meio triste.
Estava cansado
de se sentir “invisível”. Estava cansado!
Quando todos
voltaram para a sala, ele ainda se permitiu ficar uns instantes lá fora,
pensando em como o mundo era injusto, porque ele tinha que ter nascido com aquela
“estúpida” tendência para engordar, sem grana, sem a aparência que agradaria a
garota que ele queria, entre outras coisas.
Preparava-se
para voltar para a sala, antes que alguém o pegasse ali fora, quando algo perto
da cerca chamou sua atenção.
Aproximou-se.
- ME DÊ O QUE É
MEU, DANIEL!!!
[Continua na próxima segunda! :) ]
Hi, amigo
Simmer! Obrigada por acompanhar essa história!
Tenha uma ótima
semana! :)
Como não tenho
mais nem o TS3 instalado, e como essa história foi escrita há alguns anos, não
sei onde baixei, na época, todos os Sims e CPs (“conteúdos personalizados”)
utilizados. Mas que fique registrado aqui meu agradecimento aos criadores!
Thank to the creators! :D
Se eu amei? adorei esse capítulo, explicou MUITAAS coisas! Ansioso pelo próximo!
ResponderExcluirWeeeeeeeeeeeeeeeee!!! Muito feliz que tenha amado!!! Isso realmente me deixa mega feliz! Obrigada pelo comment, Leo!!! Segunda que vem tem mais! :D
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